sábado, 15 de março de 2025

 

Imenso Vazio

 

Cidades cheias de ruas vazias e hospitais cheios

Hospitais cheios de pessoas sentindo o vazio da morte

Ruas vazias e templos cheios de pessoas vazias de Cristo

Ruas cheias de pessoas com barrigas vazias

Casas cheias de panelas vazias

Pessoas com barrigas cheias de fome

Cemitérios cheios de covas cheias e vazias

Cemitérios cheios de enterros vazios de lágrimas e abraços

Pessoas com corações cheios de dor e corpos vazios de abraços

Cidades vazias cheias de festas de pessoas vazias

Pessoas vazias cheias de ódio

Cidades cheias de fábricas e circos vazios

Fábricas e circos vazios de empregos e cheios de pessoas abandonadas por palhaços

País cheio de governos vazios

Governos vazios e governantes cheios de contas cheias

 

Kiko Azevedo, 26 de 03 de 2021

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O grito de dor do escravo, chicoteado por ter fugido, é mais digno que o riso daquele que serve a mesa da casa grande.


Kiko Azevedo 25 / 01 / 2018

sábado, 22 de abril de 2017

TÍTULO DE PROPRIEDADE


Rápido a ordem de reintegração foi cumprida,
O local pareceu praça de guerra.
Pra especulação vai servir a terra,
No Brasil, vale mais a propriedade que a vida.

Rico usa influência da política,
Contra ele a justiça é lenta e lerda.
Os sem tudo morrem na mão da polícia,
Vida de pobre pra justiça é merda.

Cai Dorothy, depois Daniel,
É a floresta de Chico a chorar.
Mais uma força tarefa no papel,
E a matança quem é que vai Pará?

Bota os móveis quebrados no furgão,
Joga esse defunto nojento na vala.
A mulher atira palavras de ordem,
O Estado responde na bala.

Kiko Azevedo 17 / 02 / 2005

domingo, 15 de maio de 2016

VERTICAL

Um
poema
vertical
não
são
palavras
caídas
num canto
de
página.
São
sentenças
do
poeta
que
desabam
sobre
corações
e
mentes.

Kiko Azevedo 15 / 05 / 2016

sábado, 25 de outubro de 2014

RODÍZIO

ALTERNÂNCIA DE PODER OU "RODÍZIO"

SUGESTÃO DE EMENDA CONSTITUCIONAL 

Art. I - Fica instituída a Alternância de Poder ou "Rodízio", para os cargos executivos em todos os níveis (Prefeitos, Governadores de Estado e Presidente da República).

Art. II - Está Cassado o direito e a livre escolha pelo voto, para os cargos executivos em todos os níveis.

Art. III - A partir desta data não serão necessárias eleições para os cargos de Prefeitos, Governadores de Estado e Presidente da República.

ESCOLHA DO PREFEITO, GOVERNADOR OU PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Art. IV – Os partidos escolherão entre seus membros o representante que deverá ocupar o cargo (Prefeitura, Governo do Estado Ou Presidência da República), a que o partido tiver direito dentro do ”Rodízio”. 

I- O membro escolhido para ocupar o cargo que o partido tem direito dentro do “Rodízio” deverá ser apresentado ao congresso nacional, redes de televisão, jornais e revistas de grande circulação 30 dias antes da posse.

II- A forma de escolha do membro a ocupar o cargo que o partido tem direito dentro do “Rodízio” é prerrogativa do partido, podendo inclusive se dar na disputa de PALITINHO (porrinha), PEDRA, TESOURA E PAPEL, COPO D’ÁGUA (quem aguentar beber mais copos d’água antes de ir ao sanitário será o escolhido) OU CONCURSO DE MENTIRA.

III- O representante do partido deverá ser escolhido em convenção que deverá ser realizada em local e ocasião de livre escolha do partido, podendo inclusive ser naquele churrascão do fim de semana.
IV- O membro escolhido só poderá ser indicado para ocupar uma única vez um dos cargos, o que caracteriza o “Rodízio de Poder”. 

V- Só será permitido que um membro de partido ocupe um cargo executivo em um dos níveis de poder uma única vez, para que fique caracterizado o “Rodízio de Poder”.

RODÍZIO DE PARTIDOS

Art. V - Poderão participar do “Rodízio”, todos os partidos e redes, “com ou sem representação” nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas Estaduais e Distritais, Câmara Federal e Senado da República.

Art. VI – Poderão participar do “Rodízio” os partidos e redes, criados até 60 dias antes da posse, portanto 30 dias antes do anuncio do representante a ocupar o devido cargo.

Art. VII – O “Rodízio de Poder”, se dará do partido menor para o maior, fazendo a famosa ESCADINHA DE PODER, dando assim aos partidos menores a chance de ao menos uma vez ocupar um cargo.

a) Quando todos os partidos tiverem participado do “Rodízio do Poder”, será decretado o fim do primeiro.

b) A ordem de ocupação dos cargos do segundo ciclo do “Rodízio de Poder”, pelos partidos deverá se dar nas formas de disputa de PALITINHO (porrinha), PEDRA, TESOURA E PAPEL, COPO D’ÁGUA (quem aguentar beber mais copos d’água antes de ir ao sanitário será o escolhido) OU CONCURSO DE MENTIRA.

Parágrafo único – Revogam-se as disposições em contrário, não sendo aceitas reclamações, mimimis ou churumelas. 

Esta emenda entrará em vigor na data de sua publicação

Kiko Azevedo

Natal, 23 de outubro de 2014.

sábado, 15 de dezembro de 2012

NEVOEIRO


Concluo que sou inconcluso,
Sem você, sou Insípido
Vazio, mar sem algas
Sou mágoa, solidão
Inodoro
Vira lata
Cão sem dono
Longe de teus olhos
Sem destino
Nevoeiro
Confusão
Sou amaro
Absinto
Me sinto
Não peço
Sem você sou mero avesso
Sozinho num mar revesso
Sou água,
Aquário
Peixe sem cor
Longe do farol
Barco a deriva
Naufrágio
Sou frágil
Amargo
Sonhador
Longe de você
Concluo que sou inconcluso
Confesso que sou inconfesso

Franklin Mário  / Kiko Azevedo 15 / 12 / 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

SOMOS UM


Meu corpo traz as marcas de tua presença
Trazes no teu meus sinais
Estou presente em tua vida
Estás cravada em minha carne
Somos um
Suspiras por mim
Respiro você
Estás impregnada em mim
És meu sangue
Meu corpo é teu
Teus lábios me bastam
Segues em minha direção
Meu rumo é o teu
Meus caminhos te seguem
Minha mente está contigo
Sou unicamente teu

Kiko Azevedo  02 / 11 / 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DISTANTE


Para a menina que sonha
Para a criança que brinca
E essa dor afastar
Eu tenho que escrever
Para os que amam dizer
Para o poeta viver
E a solidão espantar
Eu tenho que escrever
Para os que dormem acordar 
Para o povo alertar
E o político calar
Eu tenho que escrever
Para chorar feito louco
Ter você como foco
E essa angústia bastar
Eu tenho que escrever
Para a alegria sorrir
Meu coração te abrir
E a tristeza chorar
Eu tenho que escrever
Para dizer que te amo
Para que saiba o que sinto
Ao de você me afastar
Eu tenho que escrever...


Kiko Azevedo 21 / 10 / 2012

sábado, 23 de junho de 2012

FLORES DE REALENGO


O outono inicia, flores e botões choram
O louco abateu as flores
A manhã é de sol
A estação é fria
Outras flores e botões derramam seiva
Flor é pra colher, não para abater
Realengo precisa
Daquele alô, do abraço e do carinho
Meu, seu, do Gil e do Brasil
O dia é frio
O jardim perdeu doze flores
O louco ferido pelo ferrão da abelha
Uma flor perde uma pétala
Mas resiste e brilha
Outra lança seu pólen
Um botão exala seu brilho
E espalha o seu perfume

Kiko Azevedo 10 / 06 / 2012

domingo, 12 de dezembro de 2010

ANTONIO E SEU TEMPO

Um tempo
Foi só isso
Foi só isso que nos pediu
Esperamos um tempo
E a esperança se foi
Nos deixando
Cheios de dor
A dor de sua partida breve
A dor de não ter sentido
Suas dores
Para que sofresse menos
Para que não se fosse
Tão cedo
Ficou apenas vinte e quatro minutos
Não foi nem um tempo
Você merecia jogar
Os dois tempos
Quem sabe Deus
Esteja precisando
De um jogador com sua alegria
Para jogar no time dele
Por isso o retirou
Para poupá-lo
E assim só pudemos vê-lo
Jogar meio tempo
Você que jogava
Para o time e para a torcida
Não poderia jogar apenas
Meio tempo
Você Antonio
Deveria ter sido obrigado
A jogar os dois tempos
O intervalo, a prorrogação
E ainda ir para os pênaltis.

Kiko Azevedo 12 / 12 / 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

SAUDADE RETA

Botar as palavras no papel parece fácil
O difícil é usá-las para traçar uma reta
Unindo sentimentos
É dar sentido ao que se sente
Unir o sentimento de quem escreve
Ao que sente quem lê

Essa reta infinita
É uma seta,
Saudade, solidão, distância...
Flechas envenenadas
Que atingem corações e martelam mentes

Nem sempre atingem o que está próximo
Mas ferem o que está longe
Dias de sol ou nublados
Sempre são longas e intermináveis retas
Que nos separam

Kiko Azevedo 27 / 11 / 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

RESPOSTA

Se minha palavra te fala?
Me responde!
Se meus versos te tocam.
Não te afastas!
Se minha mão te afaga.
Corresponde!
A tua imagem em meus sonhos.
Me provoca.
A tua ausência ao meu lado,
Me sufoca.
Se sussurro teu nome enquanto durmo.
Te escondes.
Quando te procuro a noite,
Estás onde?

Kiko Azevedo  12 / 11/ 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

SÁBADO

O sol, a tarde, o encontro.
Um outro clube da esquina.
O violão, o poeta, o sorriso de Olindina.

O fim de tarde na tela, a aguardente cristalina,
Pra ver e ouvir os olhos numa canção de menina.
O alimento, o poema e o Raio da Cilibrina.

A boa música e a noite, um convite à neblina.
O prato à mesa, o aquário, e uma rosa ferina.
Velar pela dose incerta
De poesia e adrenalina.

O recital segue a noite,
Alguém escapa em surdina.
A Timbaúba e o corpo;
A cabeça, uma outra esquina.

Kiko Azevedo 30 / 10 / 2003

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CURA

Pai de divina bondade
Tira de mim o que te desagrada
Sei que estou doente preciso de cura.
Não quero o inferno pela eternidade.
Te peço olha para mim e brada
Filho estás salvo, já tua alma é pura.

Kiko Azeveo 17 / 02 / 2005

TU ÉS

És o caminho, a verdade e a porta,
E para ti não importa o que fui ou o que já fiz.
Em ti Jesus, encontrei felicidade,
A justiça, a igualdade;
És tudo que eu sempre quis.

Jesus é o Cristo, é a pedra e a vida,
Sara as minhas feridas,
Realiza os sonhos meus.
A ti Jesus, entrego meu coração,
E por vezes em oração eu te peço,
Fala por teu filho a Deus.

És o motivo do louvor e da alegria,
És a rocha onde um dia construí meu lar.
Palavra viva; é para ti que eu vivo.
Na vida do crente é motivo até do seu respirar.

Kiko Azevedo 01 / 10 2003

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

LEME

Já me vi cego e perdido,
E tive a vida no olho do furacão.
Não tinha rumo nem destino,
Era mais um no meio da multidão,
Não tinha paz nem ombro amigo,
Era um trapo vivendo em turbilhão.

Hoje minha vida está completa.
Pois encontrei a direção.
Já não me sinto perdido,
Vou para o céu encontrar com Abraão.
Tenho Jesus apontando o caminho
E em meu Deus a certeza de salvação.

Kiko Azevedo 09 / 08 / 2004

segunda-feira, 26 de julho de 2010

INCOMPEENSÍVEL SER

Sei que é impossível compreender.
Me diz; como pode alguém querer,
Ver a luz da lua, menor que a da vela,
Ver aquele aquário como uma cela,
E na prostituta a pureza da donzela.

Sei, meu ser não cabe naquele universo.
E o telefone, é maior que meu pinho.
Um alô distante vale mais que um verso
E tua cachaça é melhor que meu vinho.

Te levo à Bagdá, você vai pra Rocinha.
Eu de Transatlântico, tu de barco à vela.
Vejo mil razões para te satisfazer,
Não sei como pode alguém entender,
O incompreensível ser, mulher.

Kiko Azevedo 20 / 04 / 2004

quinta-feira, 22 de julho de 2010

LÍNGUA MORTA

Meu povo sofre uma crise de identidade,
Mora num tal Green Village
Ou Sunset Boulevard.
Está comendo um danado de hot dog,
Bebendo água em squize.
Ouvindo a parada tecno,
Lanchando no drive tru.

Isso me provoca insônia,
Está acabando comigo.
Da língua mãe ter vergonha,
Querer falar como gringo.

Vejo o meu povo renegar a identidade,
E pra conhecer a cidade,
Diz que faz um city tour.
Faz compras no shopping center,
E está mudando o look.
Fica em stand bay,
E põe as fotos num book.

E pra parecer moderno,
Participa de Workshop,
Diz estar fazendo marketing,
Tem em casa um Home theater,
E no umbigo um piercing.

Pra mostrar que é cult,
Só fala as coisas em off.
Diz que falar isso é in,
E que nossa língua é out.
Que seu visual é fashion,
Que a comida é diet ou ligth.
E que é da high society.

Mesmo estando numa rave,
Só freqüenta a área VIP,
Porque não suporta o rush.
E para tirar o stress,
Ouve música em disk man,
Em um tal de fitness.

Kiko Azevedo 31 / 10 / 2003

terça-feira, 20 de julho de 2010

POSSEIRO

Quando a encontrei,
Percorri a floresta escura.
Sol raiando no horizonte,
Bebi de tua água pura.
Inundei tua fonte,
Invadi teus vales,
Escalei teus montes.

Não aceito mandado;
Aposso-me e invado,
Sem direito a reintegração.
Cerquei tuas matas,
Rios, montes e cascatas;
Armei minha tenda.

Sussurros, urros na noite se escuta.
Derrapei tuas curvas,
Explorei tua gruta,
Deslizei em tuas dunas,
Plantei a semente foi muita labuta.

Reguei tua terra, já colhi teus frutos.
Senti o teu doce, provei o teu cheiro.
Onde fui posseiro, hoje eu sou posse.


Letra - Kiko Azevedo / Música - Willam Guedes 09 / 2003

domingo, 11 de julho de 2010

O AMARGOR DO AÇÚCAR

Seis pares de olhos livres
Seis criaturinhas
Duas iguais
A mais velha
Talvez seis safras
Dois pares de mãos calejadas
O doce do caldo da cana
Traz o amargor
Do julgo de gerações
Seis pares de olhos radiantes
A margem da estrada
Espectadores do novo
Maravilhados
Com os monstros de ferro
Seis criaturinhas esquálidas
Pra matar a fome
Um pacote de fuba
Um refrigerante barato
Oito pares de pés descalços
Dois pares de olhos tristes
Seis pares de mãos lisinhas
Em breve escravos
Do amargo julgo
Da doce cana de açúcar

Kiko Azevedo 11 / 07 / 2010

domingo, 4 de julho de 2010

GRANDEZAS

A distância que nos separa é grande
Maior é a solidão que me encontro
Que é menor que o desejo de te sentir
Maior ainda é a saudade que sinto
Que é menor que o que nos une
Que é maior que tudo
O nosso amor é igual
E diferente de tudo que há
Nos unimos para multiplicar
E estamos divididos pela distância

Kiko Azevedo 26 / 06 / 2010

sábado, 5 de junho de 2010

IONS

Sua aparição é mágica
A tua figura única
Nossa brincadeira lúdica
A separação é ilógica
Mas a situação é crítica
Nossa união dramática
Como uma canção lírica
Somos uma ligação iônica
Nos entendemos sem fala ou mímica
Nos amamos numa cena fantástica
Ou uma realidade mística
Moraríamos até numa casa rústica
Pode ser no pólo norte ou num deserto da África
Pois teu desejo me soa como uma ordem canônica
Mesmo que você seja irônica.

Kiko Azevedo 05 / 06 / 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

ELA

Queria não ter percorrido
Tantas estradas e trilhas,
Pra só depois descobrir
Que todos os caminhos
Levam a ti.
Até os caminhos de Roma
Levam a ti.

Gostaria de ter
Todas as palavras,
Ser o maior
Entre os poetas,
Escrever
Todos os livros,
Para tentar te definir.

Poderia estudar
Todos os tratados e teses,
Mas nem mesmo todos
Os tratados escritos,
Ajudam a decifrar
Ou serão suficientes
Para explicar
Teus segredos e truques.

Como entender teus
Mistérios inexplicáveis,
Universo mágico, feitiços,
Loucos os que tentam.
Haverá razão em tua lógica?
Enfim, confesso que tentei, mas
Rendi-me aos teus encantos

 Kiko Azevedo 06 / 02 / 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

REENCONTRO

Dia a dia, pouco a pouco
Vou misturando aqui dentro
De meu peito magrelo e quase oco
É palavra, é idéia, é sentimento
Meu corpo envia mensagens
Está chegando o momento.
Sigo revirando o que sinto
Revejo cheiros e imagens
Recorro a idéias e instinto
Sei que ao chegar o momento
Nada do que faça ou diga
Terá valor ou sentido
Pois todo ouro da terra
E as estrelas do infinito
Terão seu valor diminuído
Se ao me olhar nos olhos
Quando de nosso encontro
Você não disser simplesmente
Te amo.

Kiko Azevedo 01 / 02 / 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

RAIO CONGELANTE

Te ver sob os lençóis
É olhar um Di Cavalcanti ou Picasso
Você fecha a cortina ao entrar no banho
E rasga um Dali em mil pedaços
Olho em teus olhos
Não tenho resposta
Sinto fitar um guarda da rainha
Teu abraço é uma sala com lareira
Mas você me deixa como o Redentor
Me lançando um raio congelante
Estar na cama e não tocar teu corpo
É ter entre nós a muralha da China
 E dormir nu no chão da Sibéria
Teu colo é meu palácio
Hoje não posso ocupá-lo   
Sou dono de um Taj Mahal
Mas tenho que dormir na rua

Kiko Azevedo 07 / 12 / 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

ENTREGA

Minha pitonisa vem me hipnotiza.
Anjo me encanta.
Quero o teu canto que me alucina,
Esse veneno que cega, e me contamina.
Que não tem remédio,
E pra este mal não quero vacina.
Estrela da manhã,
É bom ouvir Djavan.
Curtir o Francis Hime,
Beber até um Daime, pra ficar contigo.
Quero me entregar e pra te amar,
Exponho minha pele.
Te entrego meu peito, arrisco meu umbigo.
Me infiltro num clã,
E corro perigo.


Kiko Azevedo 20/11/03

OLHAR DE TOLO

O nosso amor é um encontro de astros.
Um eclipse que cega o olhar dos tolos,
Que teimam em olhá-lo
Sem as lentes da paixão.
Causando um movimento na galáxia.
Ouvem-se os sons deste encontro.
E a melodia provoca a Lua,
Que antes testemunha não resiste.
Tira o vestido prateado,
Toma o Sol em seus braços
E o cobre de beijos.
O calor da cena contagia Mercúrio,
Que pede a Vênus uma canção de amor.
Marte ruborizado se esconde,
Pedindo a Saturno que empreste os anéis
Para selar este romance,
Deixando Netuno gelado de ciúmes.
Urano, testemunha silenciosa,
Convida Júpiter a falar de seus segredos e mistérios.
Plutão permanece sombrio e distante.
E a Terra, sempre alegre,
A tudo assiste muda de inveja,
Se derramando em lágrimas.


Kiko Azevedo 09 / 03 / 2004

sábado, 17 de outubro de 2009

FOTO

Cumplicidade da esperança criativa,
Antro da política “viva”.
A cidade da Esperança que não morre,
Que recria do pó, queixadas e gurias.
Explosão de Lixo e poesia,
Baixo vôo da cultura RH positívo.
Arena de lobos e gaivotas,
Dos conflitos e concertos,
De paraguaios e baianos.
Centro do globo e da música,
Da dança da Vênus cigana.
Boca do lixo, língua de trapo,
Dedo duro que fere as cordas do meu coração,
Violando o interminável e impossível sonho deste “povo esperança”.



Kiko Azevedo 11 / 08 / 2002

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PAU BRASIL

As crianças brincam sob as árvores;
Uns sonham que são generais
E de suas trincheiras
Fazem discursos inflamados
Defendendo o país.
O capitão conduz a nau Catarineta
Cantando o romance de Catirina e Birico,
Alguns falam de um reino encantado
Onde as riquezas são de todos,
Um é o próprio Drummond
No fazer dos versos.
Tem o que ama a princesa mais linda,
E a princesa que ama o plebeu.
Outro incorpora Cícero,
Sobe no banco e discursa longamente
Sobre política e a queda da bolsa.
E ainda chega o Conselheiro
Avisando que o sertão vai virar mar,
Nisso o mais exaltado pede outro tira-gosto:
É picado, feijoada ou chambaril?


Kiko Azevedo 22 / 09 / 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

LIÇÕES

Busco no corpo as imagens da juventude,
O frescor da pele,
Os primeiros pelos,
O brilho dos olhos.
Encontro os sonhos,
As primeiras lições,
O despertar do amor,
O desejo.
As cicatrizes,
A busca de caminhos,
As dúvidas.
Os tombos,
Feridas que logo cicatrizam,
Marcas das travessuras.
Os pelos incomodam,
O desejo ainda é forte,
Os olhos brilham mais forte
Pelo encontro do amor.
As lições e os caminhos da vida
Trouxeram o aprendizado
E as cicatrizes.
A pele já dá sinais de cansaço,
Continuo sonhando,
Aprendendo,
Caindo e em dúvida.

KIKO AZEVEDO 01 / 09 / 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

NOVEMBRO

É Novembro!
Um dia quente de primavera,
É Novembro,
E o fogo do meu peito,
Bastaria para queimar
Todos os canaviais das Alagoas.
Estás longe, finda a tarde.
Nas curvas do Pilar
Lembro as tuas.
Meu peito arde.
É Novembro!
Tua foto é um aceiro,
Não deixa o fogo
Tomar todo meu corpo.
Tua voz um aguaceiro
A contê-lo.
O toque de tua mão,
É banhar-me no Gunga.
Beijar teus lábios,
É mergulhar na Mundaú.
Kiko Azevedo 11 / 2006

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

DOENÇA CONTAGIOSA

Não sou do contra
Apenas não suporto
Falsos sorrisos, desejos de bom dia
Quando no íntimo se quer dizer
“Vá à puta que pariu”
Não sei ser político
Pra parecer simpático
Não vim a esse mundo pra agradar
Ora bolas não se pode ser verdadeiro
Dizer o que se pensa é chato
Então serei chato até o dia de minha morte
Chega de falsidade, de querer agradar a todos
Quem agrada a todos está sempre mentindo e fingindo
Está sempre enganando alguém
Principalmente a ele mesmo
Pois não tem convicção do que pensa
Está sempre dizendo: “penso como você”
“Você está certo”, “sabe que você tem razão”
Na ausência do outro vai te dizer
“Ele está errado”
E depois te pedir
“Não diga que falei isso, pra não me comprometer”
Ora, me enojam os hipócritas
As coisas têm que ser ditas
Não para agradar ou desagradar
Mas para que a verdade seja sempre conhecida
Já joguei fora as tais oportunidades da vida
Mas não perdi a oportunidade de falar o que penso
Sempre falo o que me dá na telha
E sei que vou ouvir o que não desejo
Gosto de pessoas que falam na minha lata
Dos meus atos falhos, acho isso bom
As coisas têm que ser assim mesmo
As pessoas só falam a verdade quando têm raiva
Ser autêntico e verdadeiro passou a ser a exceção
Quando deveria ser a regra
Hoje há quem diga que
Uma mentira repetida e dita por muitos
Torna-se uma verdade inegável
Quem fala a verdade nos dias atuais
Não é “politicamente correto” é inconveniente
É visto e tratado como portadores
Do Câncer ou Lepra já foram tratados
Muitos não se aproximavam
E outros diziam: ele tem “a doença”
A verdade deveria ser um mal contagioso
Nasci com este mal
Estou doente e meu caso é terminal

KIKO AZEVEDO 27 / 08 / 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

RECICLE

Faça amor, pratique amor.
O amor é singelo.
Verde, azul, vermelho,
Marrom e amarelo.
É reciclável, reaproveitável, retornável.
É rima rica, é rima nobre.
O amor é eterno.
Ah! O ódio, o ódio é fatal,
Não é plástico, vidro, papel,
Resto de comida, “madeira” ou metal.
É corrosivo, radioativo.
Rima com dor, com rancor e mau humor.
É dispensável e repulsivo.
É rima fraca, é rima pobre,
É finito.
O amor é céu, o ódio é inferno.
O amor é renovável
E pode ser cada vez maior e melhor.
Reduza o ódio e o rancor,
Use o bom humor, um denguinho,
Uma pitada de carinho e muito beijinho.
Transforme tudo em amor
E leve pro seu ninho.
O ódio é finito, o amor eterno.
O amor é céu o ódio inferno.
O amor é luz e doação.
O ódio é mesquinho e esbanja,
É escuridão.
É preto cinza e laranja.
Kiko Azevedo 07 / 2009

TEMPO

O tempo é um rosário de contas
Só se conta o que se viu.
É mais fácil se perceber a distância do tempo
Quando tivermos que contá-lo pro futuro.
Porque o tempo passado,
Parece que nunca existiu
Quando se está no presente.
Ficam apenas as lembranças,
O tempo, esse não conta.
Nem parece que demorou tanto pra chegar.
Contamos em horas as memórias de uma década,
Em uma hora, as histórias de um ano.
Num minuto a volta ao mundo,
Contamos um dia em segundos.

Kiko Azevedo 06 / 2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SANGRIA DE AMOR

De tanto amar, o mar sangra
E deságua em meu peito
Que transborda.
E não há borda que contenha
A sangria deste amor
Que me inunda
De prazer e alegria.
O amor...
O amor, como a chuva
Molha o corpo
Lava a alma.
O barulho nas telhas
E o respingo
Faz dormir e me acalma.
Para amar
Mergulhei nas águas tranqüilas
Do lago do amor.
Pra me banhar e beber
De sua água doce e cristalina.
O meu coração
Rio em cheia de amor
Molha os campos.
Correm suas águas em minhas veias
A força desta enchente me carrega
E deixa nas ribanceiras
Feridas, fotos e lembranças.
Não dá pra segurar
É colher, e amar.

Kiko Azevedo 28 / 12 / 2003

terça-feira, 4 de agosto de 2009

PAÍS NOTA "SEM"

Nosso país foi aprovado, e é média “Sem”.
É sem mãe, é sem salário, mas tem político salafrário.
São os sem pai e os sem direitos, superfaturaram as obras dos prefeitos.
Sem agasalho e sem comida, e tem juiz vida bandida.
É sem teto e sem amor, é o celular e o grampo do senador.

O pobre é o sem razão, no futebol prende o cartola ou o ladrão.
É o sem lar e sem emprego, lá em Brasília é o político pelego.
Outro sem grana pra pagar a faculdade, é o congresso da impunidade.
É sem pesquisa na área da medicina, é político, é polícia, é propina.

Um sem cultura e outro sem casa, e a comida é o lixo da Ceasa.
É o sem terra e eu sem dinheiro, e o senador grileiro.
É sem escola, é sem merenda, e o trabalhador sem renda.
Sem segurança é a rotina, e mais de cem mortos naquela chacina.

É sem saúde e sem vacina, é a high society e a cocaína.
É político sem vergonha, e o presídio do disk maconha.
Muitos sem pão, e o povo sem esperança, é o coronel comandando a matança.
Nau sem rumo, país sem meta, se há alegria, a “culpa” é do poeta.

Kiko Azevedo 2003-08-13