domingo, 12 de dezembro de 2010

ANTONIO E SEU TEMPO

Um tempo
Foi só isso
Foi só isso que nos pediu
Esperamos um tempo
E a esperança se foi
Nos deixando
Cheios de dor
A dor de sua partida breve
A dor de não ter sentido
Suas dores
Para que sofresse menos
Para que não se fosse
Tão cedo
Ficou apenas vinte e quatro minutos
Não foi nem um tempo
Você merecia jogar
Os dois tempos
Quem sabe Deus
Esteja precisando
De um jogador com sua alegria
Para jogar no time dele
Por isso o retirou
Para poupá-lo
E assim só pudemos vê-lo
Jogar meio tempo
Você que jogava
Para o time e para a torcida
Não poderia jogar apenas
Meio tempo
Você Antonio
Deveria ter sido obrigado
A jogar os dois tempos
O intervalo, a prorrogação
E ainda ir para os pênaltis.

Kiko Azevedo 12 / 12 / 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

SAUDADE RETA

Botar as palavras no papel parece fácil
O difícil é usá-las para traçar uma reta
Unindo sentimentos
É dar sentido ao que se sente
Unir o sentimento de quem escreve
Ao que sente quem lê

Essa reta infinita
É uma seta,
Saudade, solidão, distância...
Flechas envenenadas
Que atingem corações e martelam mentes

Nem sempre atingem o que está próximo
Mas ferem o que está longe
Dias de sol ou nublados
Sempre são longas e intermináveis retas
Que nos separam

Kiko Azevedo 27 / 11 / 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

RESPOSTA

Se minha palavra te fala?
Me responde!
Se meus versos te tocam.
Não te afastas!
Se minha mão te afaga.
Corresponde!
A tua imagem em meus sonhos.
Me provoca.
A tua ausência ao meu lado,
Me sufoca.
Se sussurro teu nome enquanto durmo.
Te escondes.
Quando te procuro a noite,
Estás onde?

Kiko Azevedo  12 / 11/ 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

SÁBADO

O sol, a tarde, o encontro.
Um outro clube da esquina.
O violão, o poeta, o sorriso de Olindina.

O fim de tarde na tela, a aguardente cristalina,
Pra ver e ouvir os olhos numa canção de menina.
O alimento, o poema e o Raio da Cilibrina.

A boa música e a noite, um convite à neblina.
O prato à mesa, o aquário, e uma rosa ferina.
Velar pela dose incerta
De poesia e adrenalina.

O recital segue a noite,
Alguém escapa em surdina.
A Timbaúba e o corpo;
A cabeça, uma outra esquina.

Kiko Azevedo 30 / 10 / 2003

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CURA

Pai de divina bondade
Tira de mim o que te desagrada
Sei que estou doente preciso de cura.
Não quero o inferno pela eternidade.
Te peço olha para mim e brada
Filho estás salvo, já tua alma é pura.

Kiko Azeveo 17 / 02 / 2005

TU ÉS

És o caminho, a verdade e a porta,
E para ti não importa o que fui ou o que já fiz.
Em ti Jesus, encontrei felicidade,
A justiça, a igualdade;
És tudo que eu sempre quis.

Jesus é o Cristo, é a pedra e a vida,
Sara as minhas feridas,
Realiza os sonhos meus.
A ti Jesus, entrego meu coração,
E por vezes em oração eu te peço,
Fala por teu filho a Deus.

És o motivo do louvor e da alegria,
És a rocha onde um dia construí meu lar.
Palavra viva; é para ti que eu vivo.
Na vida do crente é motivo até do seu respirar.

Kiko Azevedo 01 / 10 2003

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

LEME

Já me vi cego e perdido,
E tive a vida no olho do furacão.
Não tinha rumo nem destino,
Era mais um no meio da multidão,
Não tinha paz nem ombro amigo,
Era um trapo vivendo em turbilhão.

Hoje minha vida está completa.
Pois encontrei a direção.
Já não me sinto perdido,
Vou para o céu encontrar com Abraão.
Tenho Jesus apontando o caminho
E em meu Deus a certeza de salvação.

Kiko Azevedo 09 / 08 / 2004

segunda-feira, 26 de julho de 2010

INCOMPEENSÍVEL SER

Sei que é impossível compreender.
Me diz; como pode alguém querer,
Ver a luz da lua, menor que a da vela,
Ver aquele aquário como uma cela,
E na prostituta a pureza da donzela.

Sei, meu ser não cabe naquele universo.
E o telefone, é maior que meu pinho.
Um alô distante vale mais que um verso
E tua cachaça é melhor que meu vinho.

Te levo à Bagdá, você vai pra Rocinha.
Eu de Transatlântico, tu de barco à vela.
Vejo mil razões para te satisfazer,
Não sei como pode alguém entender,
O incompreensível ser, mulher.

Kiko Azevedo 20 / 04 / 2004

quinta-feira, 22 de julho de 2010

LÍNGUA MORTA

Meu povo sofre uma crise de identidade,
Mora num tal Green Village
Ou Sunset Boulevard.
Está comendo um danado de hot dog,
Bebendo água em squize.
Ouvindo a parada tecno,
Lanchando no drive tru.

Isso me provoca insônia,
Está acabando comigo.
Da língua mãe ter vergonha,
Querer falar como gringo.

Vejo o meu povo renegar a identidade,
E pra conhecer a cidade,
Diz que faz um city tour.
Faz compras no shopping center,
E está mudando o look.
Fica em stand bay,
E põe as fotos num book.

E pra parecer moderno,
Participa de Workshop,
Diz estar fazendo marketing,
Tem em casa um Home theater,
E no umbigo um piercing.

Pra mostrar que é cult,
Só fala as coisas em off.
Diz que falar isso é in,
E que nossa língua é out.
Que seu visual é fashion,
Que a comida é diet ou ligth.
E que é da high society.

Mesmo estando numa rave,
Só freqüenta a área VIP,
Porque não suporta o rush.
E para tirar o stress,
Ouve música em disk man,
Em um tal de fitness.

Kiko Azevedo 31 / 10 / 2003

terça-feira, 20 de julho de 2010

POSSEIRO

Quando a encontrei,
Percorri a floresta escura.
Sol raiando no horizonte,
Bebi de tua água pura.
Inundei tua fonte,
Invadi teus vales,
Escalei teus montes.

Não aceito mandado;
Aposso-me e invado,
Sem direito a reintegração.
Cerquei tuas matas,
Rios, montes e cascatas;
Armei minha tenda.

Sussurros, urros na noite se escuta.
Derrapei tuas curvas,
Explorei tua gruta,
Deslizei em tuas dunas,
Plantei a semente foi muita labuta.

Reguei tua terra, já colhi teus frutos.
Senti o teu doce, provei o teu cheiro.
Onde fui posseiro, hoje eu sou posse.


Letra - Kiko Azevedo / Música - Willam Guedes 09 / 2003

domingo, 11 de julho de 2010

O AMARGOR DO AÇÚCAR

Seis pares de olhos livres
Seis criaturinhas
Duas iguais
A mais velha
Talvez seis safras
Dois pares de mãos calejadas
O doce do caldo da cana
Traz o amargor
Do julgo de gerações
Seis pares de olhos radiantes
A margem da estrada
Espectadores do novo
Maravilhados
Com os monstros de ferro
Seis criaturinhas esquálidas
Pra matar a fome
Um pacote de fuba
Um refrigerante barato
Oito pares de pés descalços
Dois pares de olhos tristes
Seis pares de mãos lisinhas
Em breve escravos
Do amargo julgo
Da doce cana de açúcar

Kiko Azevedo 11 / 07 / 2010

domingo, 4 de julho de 2010

GRANDEZAS

A distância que nos separa é grande
Maior é a solidão que me encontro
Que é menor que o desejo de te sentir
Maior ainda é a saudade que sinto
Que é menor que o que nos une
Que é maior que tudo
O nosso amor é igual
E diferente de tudo que há
Nos unimos para multiplicar
E estamos divididos pela distância

Kiko Azevedo 26 / 06 / 2010

sábado, 5 de junho de 2010

IONS

Sua aparição é mágica
A tua figura única
Nossa brincadeira lúdica
A separação é ilógica
Mas a situação é crítica
Nossa união dramática
Como uma canção lírica
Somos uma ligação iônica
Nos entendemos sem fala ou mímica
Nos amamos numa cena fantástica
Ou uma realidade mística
Moraríamos até numa casa rústica
Pode ser no pólo norte ou num deserto da África
Pois teu desejo me soa como uma ordem canônica
Mesmo que você seja irônica.

Kiko Azevedo 05 / 06 / 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

ELA

Queria não ter percorrido
Tantas estradas e trilhas,
Pra só depois descobrir
Que todos os caminhos
Levam a ti.
Até os caminhos de Roma
Levam a ti.

Gostaria de ter
Todas as palavras,
Ser o maior
Entre os poetas,
Escrever
Todos os livros,
Para tentar te definir.

Poderia estudar
Todos os tratados e teses,
Mas nem mesmo todos
Os tratados escritos,
Ajudam a decifrar
Ou serão suficientes
Para explicar
Teus segredos e truques.

Como entender teus
Mistérios inexplicáveis,
Universo mágico, feitiços,
Loucos os que tentam.
Haverá razão em tua lógica?
Enfim, confesso que tentei, mas
Rendi-me aos teus encantos

 Kiko Azevedo 06 / 02 / 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

REENCONTRO

Dia a dia, pouco a pouco
Vou misturando aqui dentro
De meu peito magrelo e quase oco
É palavra, é idéia, é sentimento
Meu corpo envia mensagens
Está chegando o momento.
Sigo revirando o que sinto
Revejo cheiros e imagens
Recorro a idéias e instinto
Sei que ao chegar o momento
Nada do que faça ou diga
Terá valor ou sentido
Pois todo ouro da terra
E as estrelas do infinito
Terão seu valor diminuído
Se ao me olhar nos olhos
Quando de nosso encontro
Você não disser simplesmente
Te amo.

Kiko Azevedo 01 / 02 / 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

RAIO CONGELANTE

Te ver sob os lençóis
É olhar um Di Cavalcanti ou Picasso
Você fecha a cortina ao entrar no banho
E rasga um Dali em mil pedaços
Olho em teus olhos
Não tenho resposta
Sinto fitar um guarda da rainha
Teu abraço é uma sala com lareira
Mas você me deixa como o Redentor
Me lançando um raio congelante
Estar na cama e não tocar teu corpo
É ter entre nós a muralha da China
 E dormir nu no chão da Sibéria
Teu colo é meu palácio
Hoje não posso ocupá-lo   
Sou dono de um Taj Mahal
Mas tenho que dormir na rua

Kiko Azevedo 07 / 12 / 2009